'O amor, ah o amor: eu quero
porque quero da vida.'
.
[Oswald de Andrade]
Mas ela é serena. E aprendeu a amar os espinhos como livros escritos num idioma muito estrangeiro. Não entende, mas os ama assim mesmo. Ela sentia os cacos de vidro por sua garganta, toda vez que engolia saliva e palavras não ditas. Não sabia articular os ouvidos, em prol da sintaxe provocativa dos pensamentos dele. Achava que descendo as frases em direção ao ventre, poderia parí-las, abortá-las. As palavras sangravam. Um caminho mais doloroso, talvez. A chuva caía dentro dela e ela fechava os olhos. Depois abria-os pra chover também. Acho que ele percebeu. Rolavam pelo seu rosto aqueles enigmas indecifráveis e mudos. Diziam só do sal. A rua parecia ainda mais vazia, mais secreta. Jeito soturno de rua do passado. Futuro incerto. Ela ficou tão decepcionada. Nem temia mais a malandragem dos becos, somente tinha olhos baixos e vagava por dentro. Perdida em meio às letras desencontradas. Resolveu se vestir e pôr reticências no pensamento. Talvez fosse tentar algumas notas no violão, talvez dormisse...
.
[eu - desenhada pelas
mãos da Pipa, a que voa]
.
2 comentários:
Muito Lindo Cris!!!!!!!!!!!
quazchorei.
Postar um comentário