num lugar que não lhe pertencia,
mas ocupando o espaço
que lhe era destinado. '
.
[Caio F.]
Mas você é muito ruim mesmo, menina. Fez arte outra vez. Ele tentou desacelerar a moça tensa da poesia anterior. E se dirigiu a ela com uma voz arrastada como se pensasse. Não disse nada de decoroso. A menina sentiu um nó na garganta com a sua agressividade nervosa. Dessa vez o coração explodiu. Kabum! Da última vez ele trajava um preto rígido. Usava um par de calçados pesados e assustadores, que mais pareciam botas de combate. Mas ele tem também um chinelo franciscano. Seu rosto é pálido como um abajur nazista. Ele lembra uma porta opaca de filme de terror que abre e fecha de repente. Mas não pensem o pior... Havia uma cortesia refinada naquilo. Isso não vai dar certo. Ela não é domesticada. Refiro-me a qualquer coisa excessiva e destemperada. É que ela ama demais. Escreve demais. Sorri demais. Chora demais. Se esforça demais. Seduz demais. Cale a boca, criatura. Você grita como um animal sardento, que busca reconhecimento. Se não parar de falar, não vou conseguir terminar a história! O amor está a um passo do túmulo. Não há pior ruído que o silêncio. De sorte que daquela beleza toda não vai restar muito. Ele já tem cabelos brancos. Algumas décadas a mais de rugas e ele vira um amontoado de pelancas. E não vai ter esse olhar lustrosamente faminto. Que encara o espelho com tranquilidade enganosa. Ordinário. Vai parecer um bruxo acompanhado de um séquito de criaturinhas e demônios da artrite. Um velho ranzinza que escuta vinil e relembra os bons tempos. Mas é isso que ela ama nele. Essa juventude grisalha. Essa coleção de pensamentos engenhosos que saem dos seus poros em tons marfim ou nude. Ela o olha com firmeza. E intrigada. Só pensa numa coisa. Pra onde ele vai quando ela se afasta? Ela impostou a sua voz parisiense. E resolveu sair de casa. Usou uma roupa desinibida. Ela poderia ter qualquer um naquela noite. Mas pensava no avarento da torre de controle. Enfadonho. Cinza-Chumbo. Desbotado. Porque o que ela quer mesmo, é uma daquelas grandes histórias de amor que passam na televisão.
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[ela - a Pipa - que me lê - e pra quem quiser conferir,
o blog dela é: a gente podia se ver no ar]
4 comentários:
Todos querem uma história assim!
É tão estranho sentir falata do que nunca se teve?
Bjos flor :)
Quem não quer, atira a primeira pedra.
a pipa figura sempre aqui, agora, heein ?
:)
e amor é só o que a gente quer, né?
beijos...
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