9.7.09

Velhos Tempos.

[Há muito eu queria escrever sobre esta Senhorinha, que passou feito relâmpago pela minha vida, mas que me deixou muito de sua luz.]
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Sua origem era Libanesa. Com seus 90 anos, Dona Said tinha saúde pra dar e vender. Ela era a alegria da Rua Brasil, rua do comércio, numa cidadezinha do interior de São Paulo. Ela tinha uma loja de roupas. Tão antiga, que parecia parada no tempo. Lembro das vezes que eu passava a mão sobre o balcão e sentia a poeira de séculos.
Eu tabalhava num escritório bem do ladinho. Então era costume, todas as tardes, eu ir visitá-la. E eu acabava ajudando a atender alguns fregueses (que eram raros), porque ela não podia alcançar as prateleiras mais altas. E eu gostava. Porque enquanto isso, ela ia me contando sua história de vida, cheia de amor. É claro que, um pouco enfeitada, porque ela fazia questão era de se lembrar das bonitezas. E só.
Ela chegou ao Brasil, ainda jovem, e foi morar em Macaubal. Lá, ela conheceu um dos moços mais bonitos que ela viu em vida (assim ela me contou!), seu futuro marido. De origem Libanesa, ele também havia fugido do seu país e acabaram se encontrando bem aqui, neste fim de mundo. Mas não parou por aí, porque a história foi bem complicada. Os pais dela não aceitavam o namoro. Diziam que ela era muito nova. Mas como desde aquela época era uma mulher forte e decidida, resolveu fugir. E não é que a história deu certo? Depois de casados, se mudaram pra Monte Aprazível e foi lá que eles tiveram um filho chamado Miguel (sim, é nome de anjo) e que, hoje, é professor de História na Escola Municipal. O marido veio a falecer alguns anos mais tarde. E o Miguel, carismático que só, não se casou. Prefiriu ficar cuidando da mãe e da loja que lhe sobrou.
Eu me deliciava com aquelas histórias todas. Achava bonito. Ainda mais vendo ela se encher toda de orgulho pra contar, fazendo força pra se lembrar de algum detalhe, e vez ou outra, deixar escapar alguma palavra em árabe (penso que fosse algum palavrão!).
Mas, um dia, tive que partir. E a despedida não foi muito fácil. Abracei aquela senhora, como se quisesse guardar um pedaço dela pra mim. Era mais que especial. Na sua simplicidade, ela era rainha. Depois daquele dia, nunca mais a vi. E suas histórias fazem falta. Principalmente nesses dias de chuva.

2 comentários:

Anônimo disse...

Liiiiiiiindas história, Cris!!
Beijos :**

Janaína S. disse...

Tão liiindo. E dias chuvosos sempre dão saudade né?! Independente do que, ou de quem..

Beeijos.