4.1.09

Bolinhas de gude

Quando criança, Nina só vivia entre meninos. Corria por aí nas ruas, soltando pipa, jogando bola, trocando figurinhas. Mas a brincadeira mais divertida pra ela era bolinha de gude. E o pior é que a danada sempre se dava bem! Ganhava todas as jogadas, vivia com os bolsos cheios.
No final do dia, chegava em casa cansada e feliz. Porque tinha mãe, porque tinha pai, os amigos e as bolinhas de gude.
Quando Nina cresceu, ainda guardava as bolinhas no bolso. Nas noites solitárias, era com elas que Nina conversava. Contava-lhes segredos de gente grande e em troca, as bolinhas pareciam conceder-lhe um pequeno brilho de agrado.
O tempo passou. Nina não tinha mais pai, nem mãe. A casa também não era mais a mesma. E as pessoas saíam de sua vida, simplesmente assim, como alguém que sai de cena.
Nina sabia que aquelas bolinhas eram as únicas coisas que não a abandonariam. E só as bolinhas de gude lhe traziam de volta os ventos frescos do tempo de infância, com todas as suas cores e brilhos.
Quando queria pensar em alguma coisa bonita, era só colocar a mão no bolso.

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